Holocausto gera hoje "um alarme nas consciências"
Autora de vários livros sobre os judeus, Esther Mucznik lança, na terça-feira, "Portugueses no Holocausto", com histórias de vítimas e de resistentes ao nazismo, incluindo diplomatas que salvaram vidas, como Carlos de Sampaio Garrido ou Aristides de Sousa Mendes.
"Está a eclodir agora, neste momento, um interesse pelo Holocausto, que não existia há alguns anos", diz Esther Mucznik, em declarações à Lusa. Por outro lado, destacou, "há um grande desconhecimento" sobre aquele período histórico.
"Para além do interesse puro, talvez a questão do Holocausto funcione como um alerta. A História não se repete nunca da mesma maneira, mas os genocídios, as limpezas étnicas, os massacres continuam", realça Esther Mucznik, que preside à Memoshoá, associação de apoio a professores, considerando que o Holocausto pode ser uma "fonte de ensinamentos".
"Para que serve a educação quando vemos que, no Holocausto, não foram as camadas mais atrasadas da sociedade alemã que levaram a cabo o extermínio, foram precisamente as camadas mais avançadas?", questiona, recordando o "papel de médicos que selecionavam as vidas que deviam morrer".
A propósito, Esther Mucznik diz que hoje "a crise não é só económica, é também de valores, como revela a ascensão de partidos de extrema-direita na Europa".
Com a investigação sobre a história dos portugueses durante o Holocausto - à qual dá um enquadramento europeu -, a autora, descendente de judeus polacos e estudiosa da língua e cultura hebraicas, descobriu "questões que desconhecia".
A ideia do livro foi "divulgar a questão de Portugal a partir das vítimas e não da política portuguesa da altura", explicou.
A história que mais a "impressiona" é a dos portugueses de Amesterdão, "perseguidos uma primeira vez" durante a Inquisição, no século XVI, e "que reconstroem as suas vidas em Amesterdão".
"Mas não se limitam a reconstruir as suas vidas, organizam-se como portugueses e como judeus (...) e criam a sua sinagoga, (...) e mantêm-se durante três séculos (...), guardando sempre os seus nomes portugueses e a língua portuguesa", elogia.
Porém, e "isso é duplamente triste", na II Guerra Mundial, durante a ocupação nazi, "apesar de ter essa possibilidade, Portugal novamente fechou-lhes a porta".
Outro acontecimento "muito interessante" foi a atribuição, pelo governo da I República, da nacionalidade portuguesa a uma série de judeus de Salónica por razões de "perseguição". Mas, como foi feita de forma "ambígua", permitiu "mais tarde interpretações diversas, salvando-se umas pessoas outras não", refere.
Editada pela Esfera dos Livros, a obra "Portugueses no Holocausto" será apresentada na terça-feira, às 18:30, em Lisboa, pelo secretário de Estado da Cultura, Francisco José Viegas.